Call | Arte, Cultura e Comunicação

Chamada para trabalhos | Arte, Cultura e Comunicação

Coordenadores

José Soares Neves (ISCTE-IUL/CIES)

Paula Abreu (FEUC/CES)

Paula Guerra (FLUP/IS-UP/CEGOT/CITCEM)


A Secção Temática de Arte, Cultura e Comunicação da Associação Portuguesa de Sociologia convida a uma reflexão em torno de questões estruturantes da contemporaneidade, como a identidade social/género/religiosas/etc., e como esta questão identitária se vai gizando e confrontando num mundo em que os populismos ressurgiram – motes do XI Congresso Português de Sociologia a realizar entre os dias 29 de junho a 1 de julho de 2020, em Lisboa.

Um pouco como toda a sociedade, a arte não foi exceção e também ficou ao rubro com críticas e visões que põem em causa a prevalência de certas identidades e ausência de outras. Viu-se pela primeira vez, em 2016, a campanha #OscarsSoWhite. Em Portugal um conjunto de escritoras portuguesas, como Djaimilia Pereira de Almeida, em que no livro Esse Cabelo reflete sobre a sua identidade e uma “cartografia de inaptidão” baseada no seu cabelo crespo. Por outro lado, em 2018, na Feira Internacional do Livro (FIL) de Guadalajara, México, houve uma sessão sobre a presença colonial portuguesa em África, uma questão difícil de digerir por um país com excesso de identidade, como refere Eduardo Lourenço.

Isto para argumentar a crescente relevância da arte, da cultura e da comunicação como veículo de análise das temáticas acima mencionadas, quer no seio da disciplina, quer no âmbito das ciências sociais. E se na última edição falávamos da ambiguidade do conceito de cultura e de todas as reconfigurações que pautaram a esfera cultural e o lugar das artes nas sociedades, ainda mais o podemos dizer nesta edição. Temos de nos questionar: até que ponto é a arte uma força participante nos processos de reconfiguração e afirmação identitárias? Como é que as artes, a cultura e a comunicação perpetuam e servem a perpetuação de definições identitárias tradicionais ou participam das disputas que estilhaçam tais noções de identidade?

Daí a necessidade de considerar um conjunto heterogéneo de categorias, tais como género, classe social, etnia, nacionalismo e identidade nacional, entre outras. Vejamos as polémicas sobre as apropriações culturais, muito usuais na música popular. Nos últimos anos, artistas foram criticados por uma aparente incompatibilidade entre o seu estilo musical e a sua identidade étnica. Por um lado, isso testemunha como determinados conceitos académicos saltam as paredes da academia e se tornam conceitos políticos mainstream, produzindo realidade. Por outro, interrogamo-nos acerca das consequências das análises que produzimos e do modo como servem para sedimentar barreiras identitárias, jogando o jogo dos movimentos populistas

O que pretendemos neste Call é desafiar ao debate acerca do modo como os mundos artísticos, os seus profissionais, nos diversos contextos institucionais, redes e públicos, se envolvem nestas controvérsias recentes. Como é que os artistas plasmam as suas identidades nas suas obras? Como as diferentes formas artísticas – do teatro, à dança, artes performativas contemporâneas, artes plásticas, passando pela arquitetura, literatura, cinema, jornalismo, arte pública, arte urbana – intervêm na esfera pública e moldam a visão que temos sobre identidades e populismo? E também como as análises que produzimos se cruzam com esses mesmos processos. Posto isto, enunciamos também a necessidade de romper a visão eurocêntrica que tem dominado as ciências sociais e, em particular, a sociologia da cultura, das artes e da comunicação, quer do ponto de vista epistemológico quer do ponto de vista ontológico, de modo a corresponder aos desafios colocados pelas realidades contemporâneas.

Deste modo, convidamos todos os sociólogos/as, investigadores/as e profissionais correlacionados/as, ao envio de propostas de resumo de investigações situadas em contexto académico e não académico como resposta à nossa Call.

Serão aceites posters e documentos visuais como curtas metragens ou pequenos filmes centrados em projetos ou intervenções. Estas propostas, não obstante as diferenças entre contexto académico e contexto não académico, devem ser formuladas considerando um enquadramento teórico, objetivos, metodologias utilizadas, diagnóstico, resultados e conclusões.

Estes mesmos eixos devem ser acrescidos de três ambições: a da inovação, a da avaliação e a da monitorização.

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