Call | Sociologia do Desporto

Chamada para trabalhos | Sociologia do Desporto

Coordenadores

João Sedas Nunes (FCSH-UNL)

Daniel Seabra (UFP)

Rahul Kumar (FEUC-NOVA/IHC)


O desporto tornou-se, desde finais do século XIX, num dos mais poderosos marcadores de identidade social e de representação comunitária. Enquanto terreno privilegiado para a fixação de diferenças e fronteiras entre grupos, de afirmação de pertença e solidariedade, de mobilização social e política, o desporto constitui um laboratório privilegiado para analisar as transformações nas relações de poder, nos modelos organizacionais, nas estruturas normativas e nos processos de subjetivação nas sociedades contemporâneas. Isso resulta, em grande parte, da tensão constante entre os princípios de autonomia e heteronomia que estruturou o desporto moderno desde a sua origem. Não surpreende, pois, que a constituição histórica de instituições, hierarquias e valores específicos do campo desportivo nunca tenha impedido que esse seja também um campo no qual se projetaram e testaram os mais diversos programas políticos e ideológicos.

No quadro do programa de trabalhos do XI Congresso Português de Sociologia, a Secção Temática de Sociologia do Desporto convida, assim, à apresentação de propostas de comunicação que reflitam sobre as práticas, organizações e ideologias desportivas: da esfera das práticas desportivas institucionalmente enquadradas aos modelos de comunicação difusos que encontram nas gramáticas desportivas uma base moral e normativa, aquilo a que num sentido muito lato poderíamos designar como a desportivização do social. Procuramos identificar e situar as forças que moldam os processos de transformação dos mundos desportivos em cinco grandes dimensões de análise:

  1. O campo das práticas desportivas (distribuição social das práticas desportivas, os seus significados culturais, os modelos de regulação, etc.);
  2. Os espaços do desporto (do ginásio ao health club, do estádio à casa);
  3. Os actores do mundo do desporto (praticantes, técnicos, dirigentes, adeptos, jornalistas, polícia, youtubers, etc.);
  4. As instituições e organizações desportivas (clubes, meios de comunicação social, organismos estatais, etc.);
  5. As culturas desportivas (culturas adeptas, culturas profissionais, culturalização do desporto, etc.)

Serão, assim, especialmente bem recebidos os trabalhos – provenientes de todos os campos das ciências sociais e das humanidades, mas também de outras instituições não-académicas ligadas ao campo desportivo (p.e., museus, empresas de estudos de mercado, empresas da esfera dos media e da comunicação, entidades produtoras de estatísticas etc.) – que se proponham mapear e analisar com maior ou menor densidade teórica os processos de transformação auto e heteronómica dos mundos desportivos. Neste contexto, interessa-nos particularmente identificar e escrutinar formas sociais que reterão a associação das mutações contemporâneas do campo desportivo: a) à produção de desigualdades (raça, género, classe); b) à afirmação identitária (localismos, regionalismos, nacionalismos); c) às ideologias políticas (como se inscrevem nas, mas igualmente espelham as lutas e controvérsias no interior do campo desportivo); ou ainda, d) às reconfigurações institucionais em curso (no estado, no mercado, nas formas de associativismo, na escola) num quadro geral de declínio do programa institucional.

Cremos que este movimento centrífugo para fora, em sentido estrito, da sociologia do desporto é compaginável com um movimento centrípeto de retorno à disciplina que desejamos, em paralelo, estimular. Lançando o repto de que este momento se constitua como oportunidade para equacionar o contributo que a sociologia do desporto pode dar aos debates teóricos em curso na teoria (do) social e às tendências metodológicas dominantes e marginais nos estudos sobre desporto, estamos especialmente recetivos a propostas que, a propósito da articulação entre instituição desportiva e outras instituições do mundo social, queiram avultar criticamente esse contributo.

Podem ser apresentadas propostas em diferentes modalidades: a) comunicação individual ou colectiva clássica; b) painéis que incluam, além de comunicações (um mínimo de três e um máximo de quatro), moderador e um animador de debate/discussão; c) mesas-redondas (com especial ênfase em mesas orientadas para debates teórico-metodológicos); d) sessões de discussão de objetos e materiais empíricos menos convencionais (polémicas, filmes, fotografias, paisagens sonoras, etc).

Deste modo, convidamos todos os sociólogos/as, investigadores/as e profissionais correlacionados/as, ao envio de propostas de resumo de investigações situadas em contexto académico e não académico como resposta à nossa Call.

Serão aceites posters e documentos visuais como curtas metragens ou pequenos filmes centrados em projetos ou intervenções. Estas propostas, não obstante as diferenças entre contexto académico e contexto não académico, devem ser formuladas considerando um enquadramento teórico, objetivos, metodologias utilizadas, diagnóstico, resultados e conclusões.

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